"O Pai da Bomba Nuclear Brasileira
Físico Dalton Ellery Girão Barroso
Uma revolucionária tese de doutorado produzida no Instituto Militar de Engenharia (IME) do Exército - Simulação numérica de detonações termonucleares em meios Híbridos de fissão-fusão implodidos pela radiação - pelo físico Dalton Ellery Girão Barroso, confirma que o Brasil já tem conhecimento e tecnologia para, se quiser, desenvolver a bomba atômica. "Não precisa fazer a bomba. Basta mostrar que sabe", disse o físico.
Mantida atualmente sob sigilo no IME, a pesquisa foi publicada num livro e sua divulgação provocou um estrondoso choque entre o governo brasileiro e a Agência Internacional de Energia Atômica (AEIA), responsável pela fiscalização de artefatos nucleares no mundo inteiro. O pesquisador desenvolveu cálculos e equações que permitiram interpretar os modelos físicos e matemáticos de uma ogiva nuclear americana, a W-87, cujas informações eram cobertas de sigilo, mas vazaram acidentalmente.
Barroso publicou o grosso dos resultados da tese no livro A Física dos explosivos nucleares (Editora Livraria da Física, 439 páginas), despertando a reação da AIEA e, como subproduto, um conflito de posições entre os ministros Nelson Jobim, da Defesa, e Celso Amorim, das Relações Exteriores. A crise vinha sendo mantida em segredo pelo governo e pela diplomacia brasileira.
A AIEA chegou a levantar a hipótese de que os dados revelados no livro eram secretos e só poderiam ter sido desenvolvidos em experimentos de laboratório, deixando transparecer outra suspeita que, se fosse verdade, seria mais inquietante: o Brasil estaria avançando suas pesquisas em direção à bomba atômica.
A AIEA também usou como pretexto um velho argumento das superpotências: a divulgação de equações e fórmulas secretas, restritas aos países que desenvolvem artefatos para aumentar os arsenais nucleares, poderia servir ao terrorismo internacional. Os argumentos e a intromissão da AIEA nas atividades acadêmicas de uma entidade subordinada ao Exército geraram forte insatisfação da área militar e o assunto acabou sendo levado ao ministro da Defesa, Nelson Jobim.
No final de abril, depois de fazer uma palestra sobre estratégia de defesa no Instituto Rio Branco, no Rio, Jobim ouviu as ponderações do ministro Santiago Irazabal Mourão, chefe da Divisão de Desarmamento e Tecnologias Sensíveis do MRE, numa conversa assistida pelos embaixadores Roberto Jaguaribe e Marcos Vinicius Pinta Gama. A crise estava em ebulição.
Jobim deixou o local com o texto de um documento sigiloso entitulado Programa Nuclear Brasileiro - Caso Dalton, entregue pelo próprio Mourão. Mandou seus assessores militares apurarem e, no final, rechaçou as suspeitas levantadas, vetou o acesso da AIEA à pesquisa e saiu em defesa do pesquisador.
Num documento com o carimbo de secreto, chamado de Aviso 325, ao qual o Jornal do Brasil teve acesso, encaminhado a Celso Amorim no final de maio, Jobim dispara contra a entidade. "A simples possibilidade de publicação da obra no Brasil e sua livre circulação são evidência eloquente da inexistência de programa nuclear não autorizado no País, o que, se fosse verdade, implicaria em medidas incontornáveis de segurança e sigilo", criticou o ministro no documento.
Diplomacia
Amorim teria assumido uma posição dúbia, tentando contornar a crise sugerindo que o pleito da AIEA fosse atendido, pelo menos em parte, como convém sempre à diplomacia. A entidade queria que o livro fosse recolhido e exigiu dados mais detalhados sobre o método e as técnicas utilizadas pelo físico brasileiro. Insistia que o conteúdo do livro era material sigiloso. Jobim bateu o pé e, em nome da soberania e da clara opção brasileira de não se envolver na construção de arsenais nucleares - explicitada na Constituição - descartou qualquer interferência no setor.
Situado na Praia Vermelha, o IME é um órgão de pesquisa básica, com curso de pós-graduação e extensão universitárias para civis e militares, subordinado ao Comando do Exército. O ministro citou a banca examinadora do IME, formada por seis PhDs em física, entre eles o orientador de Barroso, Ronaldo Glicério Cabral, para garantir que a tese é trabalho teórico e sem vínculo com qualquer experiência realizada no Brasil. Jobim citou o respeito a tratados para afirmar que o Brasil tem credibilidade para pesquisar "à margem de suspeições de qualquer origem".
Jobim enfatizou ainda que o recolhimento compulsório do livro, como queria a AIEA, implicaria em grave lesão ao direito subjetivo protegido pela Constituição. Em outras palavras, seria uma censura a uma obra acadêmica com a chancela do governo Lula. E ainda criticou a entidade que, segundo ele, não justificou os comentários sobre a obra e nem apresentou base científica para amparar o questionamento.
A crise é uma ferida ainda não cicatrizada. Jobim não quis dar entrevista sobre o assunto, mas confirmou que encaminhou o documento ao Ministério das Relações Exteriores, responsável pelas conversações diplomáticas com entidades como a AIEA. Procurado pelo Jornal do Brasil, Amorim não retornou. O presidente da Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN) - o órgão do Ministério da Ciência e Tecnologia responsável pelo apoio aos inspetores da AIEA - Odair Dias Gonçalves, também não quis falar.
JB Online
Comentário
Há muitos e muitos anos o conhecimento teórico sobre a construção de bombas atômicos é disseminado. Sempre ouvi isso de especialistas em tecnologia nuclear, seja da Marinha, do IPEN ou do IME.
O difícil é a construção clandestina, devido ao fato do enriquecimento de urânio e o processamento posterior exigir instalações maiores.
Não entendi a razão desse estardalhaço em cima de um trabalho teórico.
Por Dr. Polêmico
A notícia com certeza mostra um avanço significativo. É certo que o conhecimento teórico é disseminado até por filmes, mas ele representa muito pouco frente ao que é necessário para produzir um artefato nuclear que possa ser colocado na ogiva de um míssil. Essa é a grande questão. Fazer uma bomba que só pode ser carregada num caminhão e detonada estacionária qualquer país com estoques de urânio enriquecido pode fazer.
O grande diferencial é a miniaturização do artefato. Por isso cálculos teóricos e simulações computacionais são tão importantes. O governo dos EUA proíbe a exportação de supercomputadores acima de um determinado desempenho porque eles são o melhor instrumento de cálculo e simulação de uma bomba. Veja bem, se o conhecimento é tão disseminado, porque proibir a exportação de supercomputadores que possam ser usados para calcular a bomba? Se o conhecimento fosse de fato tão disseminado não haveria tantas restrições científicas e técnicas para exportação de tecnologias sensíveis pelo governo dos EUA.
Parece-me que o avanço conquistado por Barroso foi exatamente desenvolver o modelo teórico e a simulação computacional necessários para miniaturizar a bomba, com base em um conjunto bem pequeno de informações que vazaram. Pelo que pesquisei, a bomba que deu origem ao trabalho de Barroso é adequada para mísseis táticos e de menor porte. São mísseis lançados por unidades móveis, muito mais difíceis de serem rastreados e combatidos.
A W-87 é uma bomba tão compacta que um dos maiores mísseis balísticos intercontinentais dos EUA carrega dez dela de uma só vez. Ela seria o tipo de bomba adequada para uma força de defesa, pois pode ser colocada em mísseis relativamente pequenos e transportáveis, caracterizando um artefato nuclear tático, de grande poder de dissuasão.